Onde mora o ladrão? O Google cita o Lula

Presidente do Brasil Lula - Luis Inacio Lula da Silva

Onde mora o ladrão?” Foi uma pergunta que galera tascou nas redes, botando pilha na galera no Twitter pra fuçar no Google. E olha só o que apareceu nos resultados do buscador: a biografia do Lula. Tudo isso por conta de uns truques espertinhos de SEO – especialmente uns papos de construir link, palavras-chave maneiras e esconderijos no mapa do site. E claro, teve também uma ajudinha do tal do “dizqueísmo” jornalístico.

Nesse papo aqui, a gente vai entender como essa malandragem da desinformação fez o buscador dançar conforme a música, contando uma história toda diferente – e o que sua firma pode tirar de lição disso.

Como é que rolou a onda do “onde mora o ladrão?” O lance mais quente da história do “onde mora o ladrão” foi um vídeo que alguém soltou no Youtube. No vídeo, o sujeito mostra como faz essa busca e o primeiro resultado que vem. Agora, olha só o que tem de interessante nisso: o cara usou a busca por voz e o áudio some quando ele faz isso.

Já isso aí por si só já tá manjado. Os checadores de fatos e os xeretas das notícias já ficam de olho nesse tipo de edição. Mas bora seguir.

A partir daí, a busca mostrou uns três sites principais:

Pô, mas qual é o papo desses sites chamando o Lula de “ladrão”? Pra entender por que esses sites tão dando o rolê do Lula ser “o ladrão”, tem que catar a razão de o buscador tá grudando essas palavras. A parada aqui é que tem duas ideias: tem aquela coisa de juntar geral num consenso, tipo aquelas matérias que tão sempre dizendo “fulano disse isso”. E tem também essas manhas de Black Hat que tão no esquema. Bora dar uma sacada nisso.

Juntando todo mundo O esquema de juntar geral foi essencial pra ligar “Lula” a “ladrão”. Isso rola porque ao longo dos anos – principalmente depois de 2015 – surgiram vídeos, notícias e sites que botaram essas duas palavras juntas. “onde mora o ladrão” cê pode entender como uma pista. Quem é o ladrão? Pra sacar melhor, bora dar uma olhada num outro exemplo.

Catei a busca “Quem é o jogador?”. O que apareceu? O Pelé. Aí, olha, é que “Pelé” e “jogador” são tipo inseparáveis na mente da galera. É a parada que todo mundo associa. Isso é meio que aceito de boa, sabe como?

A mesma onda rola com “Lula” e “ladrão”. E aí entra o tal do “dizqueísmo” do jornalismo.

Como o jornalismo ligou Lula ao ladrão?

Presidente do Brasil Lula - Luis Inacio Lula da Silva
Presidente do Brasil Lula: Um Google Bomb apresenta o Lula como o “ladrão do Brasil”

O “dizqueísmo”, ou jornalismo declaratório, é quando as notícias são só uma enxurrada de declarações. Se o Jeff Bezos fala “Brasil é um circo”, pode esperar que os sites vão meter um título tipo “Jeff Bezos manda ver: Brasil é um circo”. A galera dá mó moral pras falas das figuras importantes.

Só que essa manha fez o jornalismo dar uma entortada. O que o cara falou virou mais importante que a verdade. Começaram a soltar uns “fulano disse aquilo”, mas o “aquilo” era balela. Ele falou mesmo, mas o que saiu da boca dele não colava. E aí as agências de conferência entraram em campo.

Mas o fato é que esse tal de jornalismo declaratório plantou nos códigos HTML a ligação entre “Lula” e “ladrão”, enfiando essas palavras nas matérias dos sites chiques. Isso foi o primeiro passo.

Truques Black Hat pra juntar “onde mora o ladrão” e Lula A sacada que a gente pegou aqui foi o uso de uns truques Black Hat pra colar o “Lula” e o “onde mora o ladrão”. Teve umas jogadas de construir links, palavras-chave maneiras e esconderijos no mapa do site – tudo isso com um plano na mão. E com a galera já pensando que o Lula era ladrão, a treta foi armada.

E o que é essa parada de Black Hat?

Black Hat é a malandragem de fazer as coisas, mesmo que vá contra as regras dos buscadores. A ideia original era ficar enfiando um monte de palavras-chave na tag <head> dos sites, lá no começo dos tempos dos buscadores.

O código ficava lá, cheio de caracteres pretos, lá em cima da tag <head>, parecendo um chapéu. Daí vem o nome.

COMO ESSA MALANDRAGEM ROLÔ NESSA JOGADA?

Uma das dicas do Google é usar os links na moral. Eles têm que apontar pra quem deu a informação ou é tipo o rei do assunto, priorizando os top e a qualidade. Mas, olha só, não foi isso que rolou. Os links foram usados pra dar um peso a mais pro Lula e amarrar ele na palavra “ladrão”.

BACKLINKS

Quando a gente olha o tanto de backlinks dos domínios mencionados, dá pra sacar que esse número explodiu lá em fevereiro de 2020 – antes disso, nem tinha essa bagunça de links.

Essa explosão de links deixou os sites mais relevantes, mesmo que eles fossem figurinhas pequenas perto de outros que tão cheios de moral. E isso também trouxe as palavras-chave pra dar contexto, e aí que mora o segredo da malandragem.

PALAVRAS-CHAVE DO LINK

A palavra-chave do link dá aquele jeito de entender o que o link quer dizer. Já falei disso em outro papo. O pulo do gato é que os domínios que tavam linkando pro Lula tinham termos como “ladrão” e “corrupto” bem na cara. E isso tava amarrado com os links pros sites.

Essas mudanças foram escondidas depois, com a tag no-index depois que a página saiu, e até uma edição disfarçada no sitemap.

ESCONDERIJOS NO SITEMAP

Pra conferir o sitemap, é só meter sitemap.xml no final da URL do site. Dá pra usar essa ferramenta legal, mas também dá pra dar a volta nela. E foi isso que a gente viu. Os dados do sitemap dos sites tava meio escondidos, tipo um dentro do outro, ou até sumindo dos sites.

E teve até uns domínios alemães entrando na parada. Tem um monte de URLs dos sites em arquivo CSV, é só dar um toque. E nos poucos que a gente bisbilhotou, vimos umas mudanças bem frescas sobre o tema.

AUMENTO NAS BUSCAS

Essa busca já foi feita antes. Mas dá pra pegar um padrão nisso. Desde 2015, quando as listinhas de sitemap sumiram, as buscas por “Lula” e “malandro” deram uns saltos em certos momentos, com um monte de conteúdo novo pra atender essa curiosidade.

Dá pra ver que foi criado um jeito de falar lá na mente do Google. E é nessa hora que sua firma pode aproveitar essa história.

Dá pra perceber que o primeiro pico, quase 50%, foi na semana que o Lula foi condenado, aí vem novembro de 2019 (quando o Lula saiu da jaula), daí primeiro de maio de 2021 (rolê pró-Lula e Bolsonaro) e, finalmente, uma subida até o ápice na semana da eleição.

Onde mora o ladrão Google bomb apontando Lula como ladrão
Onde mora o ladrão Google bomb apontando Lula como ladrão

Como sua firma pode copiar essa manha Pegar a manha de como sua firma pode fazer isso passa por entender que é meio que uma assessoria de imprensa, só que em vez de mirar nos veículos de notícia, é no Google. Vou explicar.

Dar um norte na imprensa é o sonho de qualquer bom assessor. Eles querem dar uma mexida, dizer o que deve ser dito sobre as marcas deles. Isso aí vira valor de mercado, consciência da marca e aquele buzz.

Mas olha só, é importante também guiar os buscadores. O papo com o Google é diário, quase toda hora. Então é bom casar as palavras que têm a ver com sua marca a um raciocínio que a galera vai ter.

Raramente um usuário fica só numa busca. Ele faz outra, mais uma e assim vai. Gerando e criando novas buscas até clarear o que ele quer, sem nem clicar nos links da primeira página.

O esquema aqui é guiar o resultado da busca: não só ocupar o espaço, mas também determinar o que o usuário vai buscar depois de dar uma olhada nos resultados.

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